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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A melhor banda de todos os tempos e da última semana

Não parava, a chuva não parava: assim foi durante quase todo o último dia 26 no Rio de Janeiro. Alívio para o recém empossado ministro de Minas e Energias, Edison Lobão, que viu a preocupante estiagem e o risco de racionamento energético para 2008 se dissolverem em meio a tanta água. Já para um show que renderia a gravação de um DVD, num espaço descoberto para o público e cujo ingresso custou R$80,00, a chuva era um banho de água fria para as expectativas de casa cheia. Não fosse, é claro, o show mais esperado pelos fãs do rock nacional desde o último Rock in Rio.

Num verdadeiro espetáculo na Marina da Glória, Titãs e Paralamas do Sucesso tocaram juntos no palco como uma só banda na comemoração dos 25 anos do Rock brasileiro. E formaram "A melhor banda de todos os tempos e da última semana", como os dois grupos se autodenominaram em referência a uma conhecida música dos Titãs. De fato, o público não lotou a Marina, mas compareceu bem. E fez barulho, fez muito barulho. Numa grande festa, as duas bandas apresentaram um set list que é um pedaço considerável da história do rock nacional. Isso com um acompanhamento de um incansável coro de fãs das mais variadas gerações, empolgados em ver no mesmo palco duas das cinco maiores bandas do BRock - ao lado do Barão Vermelho, Legião Urbana e RPM, não necessariamente nessa ordem -.

De um lado – ou seria melhor dizer do mesmo lado – Os Paralamas do Sucesso, a banda que agrega os melhores valores individuais do rock nacional: o melhor baterista, Barone, o melhor baixista, Bi Ribeiro, e um dos melhores guitarristas, Herbert Vianna – não me atrevo a eleger o melhor nas guitarras quando se tem ainda Frejat, Scandurra, Belloto, Fromer e Dado como contemporâneos -. Do outro lado, a banda com maior concentração de bons compositores num metro quadrado, os Titãs, que já chegaram a ter no elenco também os poetas Arnaldo Antunes e Nando Reis.

O encontro entre titânicos e paralâmicos é acima de tudo uma confraternização, mas pode ser encarado também como um momento de união de forças, um upgrade para duas bandas que perderam um pouco do gás nos últimos anos. Mas como assim perderam o gás? Afinal, em dezembro do ano passado os Paralamas abriram com grande moral o show do The Police no Maracanã. E também não faz tanto tempo que os Titãs abriram com mesmo sucesso a turnê dos Rolling Stones em Copacabana. Os dois grupos também mantêm uma respeitável agenda de shows pelo Brasil, levantam o público por onde passam. O gás a que me refiro nesse caso, é comercial e ligado também ao processo criativo.

Em 2002, os Paralamas lançaram o álbum Longo Caminho, que vendeu 300 mil cópias. O sucesso do disco se deu pela qualidade das composições, mas principalmente pela evidência da banda na mídia após o acidente de Herbert Vianna em 2001. Muitos consideravam que Longo Caminho seria o último álbum do trio, o que contribui para a boa vendagem. O retorno de Herbert aos palcos rendeu, em 2004, o disco Uns Dias Ao Vivo, que também vendeu bem: 150 mil cópias. Mas passado o embalo da volta por cima do vocalista paralâmico, a banda lançou em 2005 seu primeiro álbum de estúdio com músicas compostas após o acidente de Vianna. Intitulado Hoje, o disco vendeu pouco. E a qualidade também deixou a desejar.

O ano de 2001 também foi difícil para os Titãs. A morte do guitarrista Marcelo Fromer abalou a banda, que um ano depois sofreu um outro baque com a saída bastante desgastante de Nando Reis. Tanto que o ex-baixista titânico não foi convidado para a turnê dos 25 anos de Rock nem para a gravação do CD/DVD MTV Ao Vivo em 2005. O primeiro álbum dos Titãs como quinteto foi Como estão vocês?, em 2003. Discreto nas vendagens, deu continuidade a uma tendência mais pop da banda. Embora com algumas boas músicas como “Enquanto houver Sol”, “Provas de Amor”, “Eu não sou um bom lugar” e “Vou duvidar”, o disco não agradou ao público que acompanha o grupo desde os tempos “podreira” de Tudo ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia. Os novos tempos de quinteto continuaram com o lançamento do MTV Ao Vivo dois anos depois de Como estão vocês?. A inédita “Vossa Excelência” colocou a banda nas paradas com uma letra bastante oportunista, referente ao escândalo do Mensalão. Mas a geração de fãs mais antiga permanece insatisfeita com a tomada pop titânica. Tanto que no show dos 25 anos do Rock, houve uma ligeira vaia de um pequeno grupo na pista quando Sergio Britto puxou “Epitáfio”, música símbolo dos novos ares da banda.

Nesses últimos dois anos, os Titãs foram ficando esquecidos. Da mesma forma, os Paralamas já não ocupam boas colocações nas rádios e não vendem mais como antes. Embora o lado mais pop não agrade a todos, os Titãs ainda conseguem mandar bons hits. “Vossa Excelência”, “Anjo Exterminador” e “O inferno são os outros”, três das quatro inéditas do último disco dos paulistas, tocaram bastante nas rádios. O mesmo já não se pode dizer dos Paralamas. A última tentativa de hit da banda foi “Na Pista”, em 2005. Até tocou bastante, mas não agradou muito. Fraco para o potencial do grupo.

Foi assim, então, que chegaram Titãs e Paralamas ao encontro dos 25 anos do Rock: sem o mesmo poder de venda e de composições de pegada roqueira de antes. Em abril saberemos a repercussão da chegada dos DVDs às lojas. Já em relação ao processo criativo, não foi nesse encontro que novas parcerias surgiram. Mas a reunião pode ser um ponto marcante na carreira já gloriosa dessas duas bandas. O mergulho dos Titãs no mundo paralâmico e vice-versa é fonte de inspiração e pode render em breve, quem sabe?, o retorno de grandes composições. Os Titãs já divulgaram em seu site oficial o retorno aos estúdios para a gravação de um álbum de músicas inéditas em março. Esperar para ver. Até porque pelo que apresentaram no show da Marina da Glória, o pulso ainda pulsa para Titãs e Paralamas. E pulsa forte, no rítmo do rock.

Um comentário:

Vinícius Lisbôa disse...

Nem me conto que tinha um blog hein? Também, nem nos falamos rsrs
O texto ficou maneiro. Uma pena ter chovido no dia...
abraços